Precisamos falar sobre
depressão
A depressão afeta milhões de pessoas no mundo, impactando profundamente suas vidas e capacidade de funcionar. Compreender seus sintomas e tratamentos é crucial para oferecer apoio e encontrar esperança para quem sofre dessa condição silenciosa.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é um transtorno de humor que atinge cerca de 322 milhões de pessoas ao redor do mundo. Só no Brasil, são mais de 11 milhões de indivíduos com o diagnóstico. Em 2017, a depressão foi classificada como uma das maiores causas de afastamento no trabalho. Cerca de 18% das pessoas da população geral vão apresentar depressão em algum período da vida.
A depressão é mais comum no sexo feminino. Porém, em relação ao suicídio, nas mulheres é mais comum a tentativa, e nos homens, é mais comum a consumação do suicídio. Os homens, por terem maior resistência para procurarem ajuda e tratamento, tendem a chegar no consultório em piores estados e em estágios mais graves da doença, e também, tendem a ter piores desfechos.
Transtorno e episódio depressivo maior, transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substâncias ou medicamento, transtorno disruptivo da desregulação do humor… Todos esses compõe os transtornos depressivos de acordo com o DSM-V.
Mas afinal, o que todos esses têm em comum? O que é um transtorno depressivo?
A característica em comum entre todos esses, é a presença de humor triste ou irritável, que geralmente é acompanhado por sintomas cognitivos e físicos, que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo.
O principal sintoma é a perda de interesse e de prazer em quase todas as atividades, associados com sentimentos constantes de desesperança. Pensamentos ruminativos ocorrem, de forma constante e repetitiva - esses são pensamentos negativos, normalmente com sentimentos de culpa extrema, desesperança constante e menos valia (baixa autoestima). Apesar da ruminação estar presente em todas pessoas em algum grau, nos episódios e transtornos depressivos, esses pensamentos tornam o indivíduo disfuncional, atrapalhando ou até impedindo de exercer suas tarefas e de trabalhar.
Para que o diagnóstico de um episódio depressivo seja feito, esses sintomas devem durar pelo menos duas semanas, embora a maioria dos episódios dure por mais tempo.
Nos casos de transtorno, o humor deprimido está presente na maior parte dos dias, quase todos os dias. Se não for tratado corretamente, os sintomas costumam levar vários meses para desaparecer.
É importante distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, como por exemplo, o processo de luto após a morte de um ente querido, a perda de um emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas e outros.
A depressão é além de tristeza. É importante lembrar que nem sempre o humor vai ser triste, às vezes a depressão se esconde atrás de um humor irritado e raivoso.
A depressão pode se expressar por um sentimento de vazio crônica, e em outras pessoas, pode se manifestar como raiva e irritação constante.
- Não existe uma regra. Cada indivíduo é único, e por isso a doença pode se apresentar de maneiras tão distintas em cada um.
Existe depressão sem tristeza, mas o que prevalece, é a dificuldade em sentir prazer.
Por não ser uma doença “visível”, a maioria das pessoas imaginam que um(a) paciente só estará depressivo caso ele(a) passe o dia inteiro chorando e sem conseguir levantar da cama. Mas isso não é verdade. Em estágios mais graves, isso pode acontecer, mas, geralmente, pessoas deprimidas continuam realizando suas atividades do dia a dia, mesmo com prejuízo e sofrimento emocional intenso.
Existem formas de depressão onde o(a), mesmo estando deprimida, responde bem aos estímulos que acontecem ao seu redor e pode genuinamente se sentir feliz e leve por alguns instantes. Isso pode levar a falas preconceituosas como "ah, para ir para uma festa está bem, mas para trabalhar, não". Mas acredite, mesmo que a pessoa aparente “estar bem” ela(e) pode sim estar em grande sofrimento e essa doença ainda pode causar grandes prejuízos em sua vida.
Sintomas associados
Medo e baixa autoestima costumam estar envolvidos nos episódios depressivos. Mas, para além da área afetiva, o transtorno também afeta a cognição, o que pode provocar sintomas como dificuldade de concentração e de memória recente.
Além disso, não podemos esquecer dos sintomas físicos que podem acompanhar, como alterações no apetite e no sono, aumento do cansaço, dores pelo corpo e outros.
Insônia e fadiga frequentemente acompanham os sintomas. A tristeza intensa geralmente é acompanhada por sentimento de culpa e/ou sentimento de menos valia (baixa autoestima).
Alguns sintomas comuns de transtornos depressivos são:
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Mudanças no apetite ou peso (pode ocorrer tanto o aumento quanto a diminuição do apetite e do peso);
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Aumento ou diminuição do sono (insônia ou sonolência excessiva);
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Despertar matinal precoce;
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Diminuição de energia;
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Fadiga;
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Preguiça e/ou procrastinação crônica;
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Sentimentos de desvalia ou culpa constantes;
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Dificuldade para pensar e concentrar-se;
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Dificuldade para tomar decisões;
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Culpa excessiva (sentimento permanente de culpa e inutilidade);
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Baixa autoestima;
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Alteração da libido;
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Pensamentos de morte ou ideação suicida podem ocorrer;
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Planos ou tentativas de suicídio podem ocorrer;
Depressão bipolar
Não podemos esquecer que a depressão bipolar existe e que ela pode acontecer tanto em indivíduos com diagnóstico prévio de TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), ou não.
Nesses casos, os pacientes alternam entre o estado depressivo e estados de mania e/ou hipomania.
Mania e hipomania são estados de humor que se perduraram por dias ou semanas, e se caracterizam por:
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Agitação em excesso;
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Pouca quantidade ou necessidade de sono;
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Sensação de grandeza e superioridade;
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Impulsividade;
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Gastos exagerados;
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Irresponsabilidade;
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Consumo abusivo de substâncias;
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Relações sexuais libido excessivas;
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entre outros;
É esse quadro de mania confundir ainda mais familiares amigos e pessoas ao redor do paciente, facilitando com que sua fase depressiva passe despercebida. E o mais complicado é que estados depressivos da depressão bipolar costumam ser mais graves do que quadros de depressão maior unipolar.
Praticamente sempre, se não tratado adequadamente, após o estado de mania, o(a) paciente acaba caindo em estado depressivo novamente, e esse ciclo pode se perdurar por uma vida toda.
Tratamento
Atualmente existem tratamentos incríveis para depressão, tanto medicamentosos quanto tratamentos psicoterápicos, que proporcionam ótimos resultados no e no alívio dos sintomas da doença.
E não, os antidepressivos não causam dependência química.
Esse é um mito que leva muitas pessoas a não buscarem tratamento. Não caia nessa armadilha.
Não perca a esperança em você mesmo ou naquele(a) que você ama.
Se você se identifica com os sintomas descritos, procure ajuda de uma profissional de saúde.
Se tem alguém próximo que você identificou os sintomas, fique por perto.
Depressão não é frescura.
Depressão tem cura.
Procure ajuda.
Por Giovana E. Ribeiro
Referências bibliográficas AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.